Como a convivência com o autismo pode mudar você

Às vezes vivemos tão no “modo automático”, não é mesmo? As rotinas do dia a dia nos impedem de perceber transformações importantes que vão acontecendo aos poucos.

Se o autismo passa a fazer parte do nosso cotidiano, muitas mudanças acontecem nessa rotina. Mas o tempo se ocupa de tal forma – com tal brutalidade até eu diria – que deixamos de notar evoluções importantes que aos poucos passam a fazer parte de nós também.

Não quero romantizar o autismo. Sei das inúmeras dificuldades, principalmente no início do diagnóstico. Sei das dores de uma mãe, sei das expectativas frustradas, sei das limitações nos tratamentos.

O autismo é um amplo espectro, o que significa que pessoas dentro desse diagnóstico terão estilos de vida muito variados. Mas eis algumas mudanças que eu acredito que a maioria das pessoas que convivem com alguém dentro desse espectro irão aos poucos notar em si mesmas:

  1. Compreensão
    Sabe aquela criança que parece estar fazendo birra no chão do mercado? Sabe aquela mãe que num desabafo diz que já não aguenta mais? Ficamos mais tolerantes, mais compreensivos. É mais fácil nos colocar no lugar daquelas pessoas. Ninguém sabe ao certo o que se passa com o outro. É nessa hora que cresce nossa empatia.
  2. Resiliência
    Em algum momento podemos ser aquela mãe que disse não aguentar mais. Mas algo dentro de nós impulsiona… quase como quando precisamos correr um pouquinho a mais para não perder o ônibus, sabe? Na próxima vez já sabemos que temos essa força a mais. E ela aumenta mais um pouquinho… de pouquinho em pouquinho nossa força cresce.
  3. Prioridades
    De repente você percebe que algumas coisas com as quais se preocupava não têm a menor importância. Sabe quando você se dá conta de que picuinhas não valem a pena? Que algumas de suas preocupações eram medíocres? Você deixa de se importar com algumas banalidades, coisas muito mais complexas ganham sua atenção.
  4. Tudo muda o tempo todo
    Você deixa de se acomodar, porque não existe mais aquela previsibilidade que se tinha antes. As dificuldades mudam o tempo todo, as pequenas vitórias te surpreendem, o tempo torna-se relativo, o cenário muda todo tempo.
  5. Relações
    Família, amigos, colegas de trabalho, pessoas que você conheceu nessa nova caminhada ou até na sala de espera. Você passa a pertencer a outros grupos, deixa de fazer parte de alguns, lembra-se de pessoas que conheceu, muda suas relações, naturalmente descarta algumas e valoriza outras.
  6. Cobranças
    A gente acaba se cobrando menos, sabe? Porque no fim, mesmo que o resultado não seja o esperado, sabemos da nossa dedicação, que estamos dando o nosso melhor. E não existe alívio maior do que diminuir as nossas próprias cobranças.
  7. Amor
    Muitas vezes o amor se reflete no cuidado. Sabe quando você faz de tudo para que uma pessoa se sinta bem, confortável, acolhida? É uma forma de demonstrar amor. O mesmo acontece quando se ama alguém que tem autismo: você quer que essa pessoa fique bem, quer ensinar-lhe de uma forma que ela aprenda, quer que fique confortável, saudável, se alimente da melhor maneira possível, desenvolva-se cada dia mais e melhor. Isso é o amor crescendo e se fazendo presente.

Não tenha dúvidas de que o autismo nos transforma! Esteja atento e aprecie…

Por Amanda Puly

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