Como a convivência com o autismo pode mudar você
Às vezes vivemos tão no “modo automático”, não é mesmo? As rotinas do dia a dia nos impedem de perceber transformações importantes que vão acontecendo aos poucos.
Se o autismo passa a fazer parte do nosso cotidiano, muitas mudanças acontecem nessa rotina. Mas o tempo se ocupa de tal forma – com tal brutalidade até eu diria – que deixamos de notar evoluções importantes que aos poucos passam a fazer parte de nós também.
Não quero romantizar o autismo. Sei das inúmeras dificuldades, principalmente no início do diagnóstico. Sei das dores de uma mãe, sei das expectativas frustradas, sei das limitações nos tratamentos.
O autismo é um amplo espectro, o que significa que pessoas dentro desse diagnóstico terão estilos de vida muito variados. Mas eis algumas mudanças que eu acredito que a maioria das pessoas que convivem com alguém dentro desse espectro irão aos poucos notar em si mesmas:
- Compreensão
Sabe aquela criança que parece estar fazendo birra no chão do mercado? Sabe aquela mãe que num desabafo diz que já não aguenta mais? Ficamos mais tolerantes, mais compreensivos. É mais fácil nos colocar no lugar daquelas pessoas. Ninguém sabe ao certo o que se passa com o outro. É nessa hora que cresce nossa empatia. - Resiliência
Em algum momento podemos ser aquela mãe que disse não aguentar mais. Mas algo dentro de nós impulsiona… quase como quando precisamos correr um pouquinho a mais para não perder o ônibus, sabe? Na próxima vez já sabemos que temos essa força a mais. E ela aumenta mais um pouquinho… de pouquinho em pouquinho nossa força cresce. - Prioridades
De repente você percebe que algumas coisas com as quais se preocupava não têm a menor importância. Sabe quando você se dá conta de que picuinhas não valem a pena? Que algumas de suas preocupações eram medíocres? Você deixa de se importar com algumas banalidades, coisas muito mais complexas ganham sua atenção. - Tudo muda o tempo todo
Você deixa de se acomodar, porque não existe mais aquela previsibilidade que se tinha antes. As dificuldades mudam o tempo todo, as pequenas vitórias te surpreendem, o tempo torna-se relativo, o cenário muda todo tempo. - Relações
Família, amigos, colegas de trabalho, pessoas que você conheceu nessa nova caminhada ou até na sala de espera. Você passa a pertencer a outros grupos, deixa de fazer parte de alguns, lembra-se de pessoas que conheceu, muda suas relações, naturalmente descarta algumas e valoriza outras. - Cobranças
A gente acaba se cobrando menos, sabe? Porque no fim, mesmo que o resultado não seja o esperado, sabemos da nossa dedicação, que estamos dando o nosso melhor. E não existe alívio maior do que diminuir as nossas próprias cobranças. - Amor
Muitas vezes o amor se reflete no cuidado. Sabe quando você faz de tudo para que uma pessoa se sinta bem, confortável, acolhida? É uma forma de demonstrar amor. O mesmo acontece quando se ama alguém que tem autismo: você quer que essa pessoa fique bem, quer ensinar-lhe de uma forma que ela aprenda, quer que fique confortável, saudável, se alimente da melhor maneira possível, desenvolva-se cada dia mais e melhor. Isso é o amor crescendo e se fazendo presente.
Não tenha dúvidas de que o autismo nos transforma! Esteja atento e aprecie…
Por Amanda Puly