Como ampliar o brincar em crianças com autismo?
A sala da minha casa é um mar de brinquedos: massinhas, livros, lápis de cor, blocos de montar, papéis, bichos de pelúcia, etc. Tudo que meu filho quer é se divertir, mas eu sei que todas as vezes que ele inicia uma nova brincadeira, ele está inconscientemente colocando em prática inúmeras habilidades que serão essenciais ao seu desenvolvimento.
Brincadeiras, jogos, e brinquedos fazem parte do mundo da criança desde sempre. As brincadeiras são as principais oportunidades de uma criança ensaiar interações sociais, explorar a criatividade, usar o simbolismo, tomar decisões e resolver problemas – habilidades que serão úteis em toda sua vida, especialmente nas relações sociais.
Para crianças com autismo, as oportunidades de brincar em conjunto são um pouco mais complexas. No entanto, a brincadeira é também para elas uma ferramenta de desenvolvimento importante. As abordagens lúdicas são as terapias mais eficazes para melhorar a linguagem, as habilidades sociais e as capacidades cognitivas de uma criança dentro do espectro.
AMPLIANDO POSSIBILIDADES ATRAVÉS DO BRINCAR
Um dos primeiros sinais de autismo que podem ser notados em uma criança é a sua maneira peculiar de brincar. Ela não enxerga o brinquedo como um todo, mas costuma focar em parte dele, como por exemplo nas rodinhas de um carrinho. Além disso, podemos notar a criatividade e a imaginação bem limitados, anulando os jogos de faz de conta e brincando sempre da mesma maneira.
É comum que essas crianças tenham um repertório pequeno de brincadeiras, empilhando ou alinhando seus brinquedos, ou apenas explorem sons e outras sensações que eles ofereçam.
É possível – e necessário – estimular a ampliação dos interesses dessa criança e, por isso, trouxemos aqui algumas ideias!
- Ofereça brinquedos que permitam a estimulação e o desenvolvimento de áreas múltiplas. Já escrevemos sobre algumas sugestões, mas se você não leu, clique aqui.
- Evite coleções ou o acúmulo de brinquedos repetidos, pois eles perdem sua função. Por exemplo: é preferível ter 3 carrinhos bacanas e um posto de combustível do que ter mais de 100 carrinhos em uma coleção (que certamente serão enfileirados).
- Ensine a criança a brincar de formas diferentes com o mesmo brinquedo. Aproveitando a proposta dos carrinhos, faça ruas colando fita crepe no chão e monte comércios variados com blocos de montar ou sucata.
- Estimule a comunicação da criança durante a brincadeira: faça o som da ambulância, da buzina, do choro do bebê, por exemplo, e peça que ela imite.
- Exagere nas expressões, empolgue-se com a brincadeira. Você precisará despertar o interesse e a curiosidade da criança sempre que mudar o repertório.
- Explore jogos que precisam de mais de uma pessoa e ensinam estratégias, memorização, esperar a vez… como pula pirata, dominó, memória, etc.
- Separe os brinquedos em pequenos grupos, por classificação. Evite aquele grande baú onde se guarda tudo, pois nada parecerá interessante.
- Ensine o faz de conta! Você pode preparar comidinhas de uma festa de aniversário usando massinhas ou fazer uma lanchonete com as plantas do jardim, por exemplo.
- Brincadeiras que envolvem música ou repetições são sempre boas pedidas! Alguns exemplos: adoleta, voa ou não voa (veja o vídeo aqui!), estátua, dança da cadeira, cabeça/ombro/joelho/pé e outras brincadeiras de roda.
- Aproveite as peças de um jogo para criar novos jogos! O baralho pode virar um castelo, o dominó pode ser enfileirado e fazer o efeito cascata, cordas e bambolês podem virar um circuito, um balde pode ser um cesto de basquete, o giz pode desenhar a amarelinha no chão ou o alvo na parede… São infinitas possibilidades!
- Sempre que possível, utilize espaços abertos para brincar. Explorar uma caixa de areia, subir em árvores, jogar bola, procurar insetos no quintal, etc.
A brincadeira é fundamental para todas as crianças, pois oferece habilidades que serão utilizadas em suas futuras interações sociais. Já desisti de manter minha sala organizada e espero que outros pais também entendam a oportunidade de aprendizado e a importância terapêutica que existe no simples brincar!
Por Amanda Puly