Sobre hipersensibilidade e autismo
Você fica arrepiado quando alguém arranha um quadro negro? Não gosta de comer quiabo por causa daquela “baba”que ele solta? Fica incomodado com barulho de microfonia? Não suporta ficar com as roupas molhadas? Se alguma destas situações te deixa desconfortável, você já experimentou como pode ser a hipersensibilidade.
Grande parte das crianças com autismo são também hipersensíveis, ou seja, apresentam TPS (Transtorno do Processamento Sensorial). Isso quer dizer que a sua percepção das sensações não está regulada da forma adequada.
Como então podemos querer melhorar seus desenvolvimento e torná-las seres sociáveis, se elas nem ao menos conseguem tolerar os estímulos do ambiente onde estão presentes?
COMO AJUDAR?
O primeiro passo é encontrar o que causa desconforto. Vale lembrar de todos os sentidos do nosso corpo: visão, audição, paladar, tato, olfato, vestibular (equilíbrio) e proprioceptivo (percepção das partes do seu corpo). Alguns exemplos:
- etiquetas na roupa;
- ruídos altos, como o ‘parabéns’ no dia do aniversário;
- toques, abraços, beijos;
- cheiros fortes;
- banho quente ou frio;
- tontura quando em movimento;
- luzes fortes ou que piscam;
- dificuldades na escovação de dentes ou corte de cabelo;
- etc.
Uma sobrecarga sensorial pode levar a criança a ter problemas de aprendizagem, ficar ansiosa, ter crises nervosas, se isolar e até ficar deprimida. Há casos em que a criança não consegue sair da fralda porque se sente muito desconfortável no banheiro, por se úmido e frio. Há crianças com severa seletividade alimentar por problemas basicamente sensoriais. E os pais podem demorar muito a perceber, por isso é tão importante investir nessa investigação, mesmo quando a criança não é verbal ou possui vocabulário limitado. Esteja com a mente aberta para entender que a criança pode não gostar de uma coisa que todas as outras amam (como balanço ou gangorra, por exemplo) ou vice-versa (como gostar de temperos fortes). Uma sensação agradável para uns pode ser muito desagradável para outros.
A comunicação, seja ela verbal ou não, é a melhor forma para identificar e ajudar. Conectar-se com a criança é fortalecer a empatia e a confiança, possibilitando investir em alternativas que gerem conforto. Algumas sugestões:
- Utilizar roupas confortáveis, sem etiquetas. Evitar jaquetas com zíper.
- Deixá-la sentir-se no controle daquilo que a incomoda. Um exemplo disso é quando a criança tem medo de balões. Dê-lhe um balão pouco cheio para que ela estoure, de forma que o ruído seja menor e ela tenha o controle sobre ele. Você pode ir trabalhando sobre os medos gradativamente, fazendo com que ela sinta-se no controle.
- Oferecer fones de ouvido em locais barulhentos.
- Ir ao parque ou outros locais movimentados pela manhã, horário com menos pessoas.
- Ficar menos tempo em festas de aniversário, não esperar que a criança se sinta incomodada.
- Optar por restaurantes arejados e menos barulhentos.
- Usar cortinas escuras ou blackouts no quarto da criança, que permitem o escurecimento total do ambiente.
- Diminuir o tempo das atividades.
- Trocar lâmpadas defeituosas (piscando).
- Utilizar cobertores pesados durante o sono.
- Deixar baixo o volume da televisão, telefone, rádio, etc.
- Guardar os brinquedos de maneira organizada, em caixas transparentes. Evitar bagunça.
Um bom terapeuta ocupacional é também indicado, pois é habilitado para tratar especificamente o tratamento de integração social e ajudar a criança a responder mais adequadamente as sensações recebidas pelo ambiente.
Por Amanda Puly