Educação inclusiva: mais um desafio para o sistema educacional brasileiro
Por Luana Gabriela*
Escolas sem ventiladores, sem cortinas, algumas inclusive sem carteiras e professores. Biblioteca, laboratório de ciências e internet são luxos quando pouco mais de 50% das instituições públicas de ensino brasileiras não possuem nem saneamento básico. Nesse cenário novas leis determinam que alunos com qualquer tipo de necessidade especial (física ou cognitiva) sejam atendidos na rede regular de ensino.
Até poucos anos atrás essas crianças, quando diagnosticadas, tinham atendimento especializado nas Apaes: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, que surgiu no Rio de Janeiro em 1955. Por muito tempo, essas associações foram onde gerações de crianças aprenderam a ler, escrever e tiveram contanto social. Vale ressaltar também que naquela época pouco se sabia sobre várias das síndromes que conhecemos hoje. No entanto, mesmo que tivessem um bom desempenho acadêmico, as crianças não se desenvolviam socialmente como ocorreria se estudassem em turmas regulares.
Considerando essa realidade é importante considerar as questões mais comuns quando o assunto é educação inclusiva: A inclusão é real ou utópica? É bom para o aluno especial, mas também para os regulares? Os alunos regulares não seriam deixados de lado, já que os especiais demandam mais atenção? Os professores estão preparados? As escolas estão preparadas? Há material didático específico para as necessidades dos alunos especiais? São muitas as dúvidas que surgem e eu, infelizmente, não tenho essas respostas. Mas acho válido contar um pouco das minhas experiências com relação a esse assunto.
Quando estudava na sétima série (hoje sexto ano) tive um colega cego. Ele sentava na primeira carteira, digitava sempre na sua máquina de braile. Não me lembro se ele tinha apostila especial nem como eram corrigidas as provas dele, mas lembro de uma experiência que o professor de educação física fez. O aluno levou sua bola de futebol (que é menor que a normal e produz som a partir de bolinhas que tem lá dentro) e o professor colocou venda em cada um dos alunos, menos nos goleiros, exatamente como funciona num jogo de futebol de paratletas. Foi inesquecível, para nós e para ele também, tenho certeza. Já no ensino médio estudei em um colégio que tinha turmas específicas para alunos surdos, mas apesar de terem uma turma específica, conviviam normalmente com os demais estudantes, e os alunos regulares mais interessados, inclusive dedicaram-se a aprender Libras para poderem se comunicar melhor com aqueles.
Como professora tive alunos autistas e com síndromes variadas, mas na faculdade só tive aula de Libras, o que mostra a falta de preparado dos cursos de licenciatura do país. Tinha uma turma com 70 alunos e um autista. Uma turma com 40 e outro autista. Ambas turmas em escolas particulares, o que fez toda a diferença. Diante desse desafio fui estudar a síndrome do espectro autista, mas por mais que eu estude ficarei sempre aquém já que não sou especialista. De qualquer forma, nesses desafios pude contar com as psicólogas das instituições e com os tutores dos alunos (também psicólogos que ficam constantemente ao lado deles) o que facilitou e muito o modo de me relacionar e de cobrá-los.
No entanto, diante daquelas falhas apontadas no início do texto, fico me questionando como os professores e os alunos da rede pública podem vencer mais esse desafio. E eu também não tenho essa resposta.
Há profissionais que defendem a manutenção das Apaes, e colocam na questão econômica, a nova ordem de inclusão partindo do Estado. Segundo essas pessoas o fechamento das Apaes se dá unicamente porque essas dispenderiam muito dos recursos da educação. Independente disso, acho necessário ponderar sempre o lado positivo de toda e qualquer ação. Por isso, acredito que a busca pela inclusão nas escolas é benéfica para todos os alunos, a socialização com o diferente, o respeito ao limite do próximo e colaboração mútua são sempre positivos.
*Luana é jornalista e professora de letras, nos ensinos fundamental e médio. Será sempre nossa convidada!
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