A família pode contribuir na alfabetização de crianças especiais

Sou fascinada pelo processo de alfabetização. Trabalho com isso há anos e estou sempre aprendendo algo novo em cursos, trocas de experiências, leituras e principalmente com as próprias crianças. Acho incrível quando uma criança começa a aprender a ler, especialmente quando há alguma dificuldade no processo.

Uma das lições mais importantes que aprendi é a de não subestimar a capacidade de uma criança.  Às vezes parece que não vai dar certo. Que a aprendizagem não vai acontecer. E então uma pessoinha tão pequena acaba surpreendendo e mostrando que só precisava que seu tempo fosse respeitado, que diferentes estratégias fossem experimentadas e de um pouquinho de credibilidade.

Eis que chega à minha vida alguém que é considerada uma incógnita. Difícil chegar a um diagnóstico, mesmo agora com quatro anos. Minha filha, Maria Clara, de quem já falei em outras publicações.

E, como em todo o seu crescimento até agora, com atrasos no desenvolvimento, vejo que crianças mais novas que ela estão “à sua frente” no aprendizado escolar. E eu, como mãe me preocupo. Não porque quero que minha filha seja a melhor da turma dela, ou que saiba mais do que um ou outro colega. Mas porque não quero que ela sinta-se “menos” por não acompanhar seus colegas em alguns momentos. Hoje a Maria percebe quando algum amiguinho consegue fazer algo e ela não. Desde fazer um pequeno desenho, até cantar um trecho de uma música ou pular em uma cama elástica.

E assim, meu desafio fica agora um pouco maior. Tenho sempre buscado formas de contribuir no desenvolvimento da Maria Clara e, depois de anos planejando estratégias para contribuir com o aprendizado de tantos alunos que já passaram por mim, me deparo com minha própria filha necessitando da minha dedicação também no auxílio ao seu desempenho escolar. Parece uma constatação óbvia, mas para mim não foi. No local de trabalho sou professora, mas em casa sou MÃE. E as duas funções possuem certa ligação, mas ao mesmo tempo estão bem separadas uma da outra. Um pouco confuso, mas é exatamente assim que vejo.

Enfim, cabe a mim agora isso. Não espero de forma alguma que a Maria comece a ler e escrever neste momento. Aliás, sou contra essa coisa de apressar tudo, principalmente pulando etapas. Porém, o processo de alfabetização inicia-se bem antes da decodificação das letras. Essa semana por exemplo, mostrei a ela dois convites que recebemos (para o aniversário de uma coleguinha da escola dela e para um chá de bebê da família), explicando para que serviam. Antes de aprender a ler, a criança precisa ir compreendendo a função da escrita. Nesse caso, a Maria começa a perceber que em um pedaço de papel todo enfeitadinho, existe algo além de desenhos bonitos e alguns símbolos (letras e números). Existe ali a intenção de convidar-nos a participar de um evento importante na vida dessas pessoas.

Esse é apenas um exemplo, uma situação que pode ser utilizada para auxiliar uma criança em sua aprendizagem sem que ela perceba. O nosso dia a dia está cheio de momentos assim, que podem ser aproveitados para entender a função da escrita, exercitar o raciocínio, criar hipóteses, desenvolver estratégias… Tudo com muita paciência, espontaneidade e carinho. E claro, sempre respeitando o tempo de cada um e acreditando em seu potencial. Desta forma, tais aprendizagens serão levadas não só para a escola, mas para a vida. Já escrevi algumas dicas de como os pais podem auxiliar na alfabetização dos seus filhos em casa. Logo, logo estarei eu mesma seguindo essas mesmas dicas e registrarei as experiências com resultados positivos para poder compartilhá-las aqui no site.

Por Paula Puly

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