Quando nossos planos seguem outros caminhos…

Por Paula Puly

Ao descobrir que está grávida, toda mãe começa a pensar no seu bebê. A dúvida sobre o sexo, a vontade de ver logo a barriga crescer, o enxoval, o chá de fraldas, e mais uma infinidade de expectativas acerca dessa nova descoberta.

O que nenhuma mãe espera é sair de uma ultrassonografia sabendo que seu filho terá algum tipo de problema.

Foi o que aconteceu na minha primeira gestação. Eu desejei muito, calculei os dias férteis e começamos a tentar. A ansiedade era tão grande que fiz um teste super cedo e deu negativo. Como eu estava com uma dorzinha no abdômen foi marcada uma eco para algumas semanas depois.

Quando o médico que estava fazendo o exame disse que eu estava grávida, a sensação foi inexplicável. Me emocionei na hora e agradeci muito ao médico, que não deu muita atenção ao meu momento de loucura, mas eu nem liguei. Saí de lá nas nuvens com aquele sentimento que só uma mãe que desejou muito e conseguiu engravidar entende.

Estava tudo bem (fora um descolamento no início que me assustou bastante) até a ultra morfológica do segundo trimestre. Foi quando o médico que estava avaliando constatou uma malformação no cerebelo do feto e ainda estava com o crescimento abaixo do esperado. Eu não consegui acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. O meu bebê teria algum tipo de problema e eu nem imaginava qual seria. Segui a gestação fazendo muitas outras ultrassonografias e exames de sangue, sem ter a certeza de nada. Mas mesmo com medo eu não perdi a fé nem a esperança.

Apesar de eu tentar me manter forte, chorei muitas vezes imaginando o que poderia acontecer. Não sabia se minha filhinha iria enxergar, falar, andar… eu só não queria que ela sofresse. Às vezes eu ficava pensando que aquela situação não era verdadeira, que deveria ser um sonho.

Meu médico na época explicou que poderia fazer um exame genético no bebê, mas que seria complicado e muito invasivo. Então optei por não fazer, até porque, caso fosse constatado algo por esse exame, nada poderia ser feito e o mesmo exame poderia ser perfeitamente feito após o nascimento do bebê.

Quantas e quantas mães passam por situações semelhantes. Essa sensação de “luto” é muito dolorosa. Admiro a cada uma, pois sei que são verdadeiras guerreiras. É difícil demais quando algo de ruim atinge nosso bem maior.

Após quatro anos…

10406790_10206829893936086_5722989442455518033_n ainda não temos um diagnóstico fechado sobre a Maria Clara. Graças a Deus ela enxerga, anda, fala e brinca como qualquer criança… seu desenvolvimento está sempre progredindo, só que com atraso. Seu problema é genético mas é só dela, já que o meu exame e do meu marido saíram normais.

Foram muitos os desafios e ainda continuamos enfrentando-os todos os dias. Mas nenhuma dificuldade é maior do que a alegria que a Maria Clara proporciona a mim e ao resto da família.

Abaixo, coloco um texto de Emily Perl Kinsley, muito interessante para entender um pouco mais sobre essa “mudança dos nossos planos”.

                                                                               

Bem-vindo à Holanda

Quando você vai ter um bebê, é como planejar uma fabulosa viagem de férias – para a Itália. Você compra uma penca de guias de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. Davi, de Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases convenientes em italiano. É tudo muito empolgante. 

Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: “Bem-vindos à Holanda”. 

“Holanda?!? Você diz, “Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália.” 

Mas houve uma mudança no plano de vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar. 

O mais importante é que eles não te levaram para um lugar horrível, repulsivo, imundo, cheio de pestilências, inanição e doenças. É apenas um lugar diferente. 

Então você deve sair e comprar novos guias de viagem. E você deve aprender todo um novo idioma. E você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que você nunca teria conhecido. 

É apenas um lugar diferente. Tem um ritmo mais lento do que a Itália, é menos vistoso que a itália. Mas depois de você estar lá por um tempo e respirar fundo, você olha ao redor e começa a perceber que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda tem até Rembrandts. 

Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você vai dizer “Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado.” 

E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. 

No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.”

Emily Perl Kinsley

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4 Comentários

  • Posted 28 de July de 2015

    tostesraphael

    Orgulhoso de ouvir a palavra das três, cada uma como uma visão bem centrada e fundamentada. A Maria , a Juju, Lelê e João tem três especiais mães… Parabéns, Meninas…

    • Posted 28 de July de 2015

      clubematerno

      Obrigada, Raphael! Os papais também são muito bem vindos ao Clube Materno!

  • Posted 29 de July de 2015

    Clara Correia Brandt

    Ninguém está só. Precisamos sempre uns dos outros, Deus abennn àtodos que colaboram confortando seu novos amigos.

    • Posted 29 de July de 2015

      clubematerno

      Isso mesmo, Clara! Graças a Deus não estamos sós! Às vezes temos verdadeiros anjos ao nosso lado!

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